contador de visitantes

29.10.10

.dois e subindo

Data: 28/10/10
Hora Local (CocoCay – Bahamas): 03h16
Hora do Brasil: 05h16

Yeh, subiu pra 2 horas a diferença pro Brasil.
Yeh, subiu pra 2 meses de contrato.

E falando de horas adiantadas, falei hoje (ontem!), depois de muito tempo, com a menina que mora no futuro (daí vem o devaneio: “hoje lá já é amanhã”). Não vou dizer o nome, porque da última (e única) vez que eu falei aqui tive problemas, porque o Google Translator traduz do jeito que ele quer as coisas, daí confunde o sentido do negócio. Mas falei com ela, a minha loca predileta, e isso, de certa forma, me fez bem. Claro, foi um papo louco, não se pode esperar nada diferente disso. Mas daí voltam todas aquelas dúvidas e confusões – e loucuras – na cabeça da gente.

Hoje (ontem!) tem festa de independência de St. Vincent (já fui!) no back deck. Festa grande (porque faz tempo que não tem nenhuma) e povo animado. Menos eu. Descobri que não tenho mais amigos. Sinto que muita gente até me odeia. O cast, que eu falei que seriam meus potenciais melhores amigos, se tornaram isso mesmo. Mas, mesmo assim, não é nada profundo do tipo get along gang. Os poucos brasileiros que me sobram (heranças do último contrato) estão indo embora. A Natalie, minha irmã nova-iorquina, ainda está aqui e isso me deixa um pouco mais feliz – tá aprendendo português e me mata de orgulho. Mas, no geral, estou by myself em todos os sentidos. A Kely, minha ‘funcionária’, foi embora faz uma semana. Ainda não chegou ninguém pro lugar dela (com muita sorte chega alguém amanhã) e estou tendo que trabalhar em dobro – faço o meu antigo e o novo trabalho, tudo ao mesmo tempo. Tenho trabalhado demais, o que por um lado é bom – gasta meu tempo! O outro lado bom é que consegui mostrar serviço e minha regalia de chefe, que deveria ter acabado, não vai acabar tão cedo. Não sei até quando vai durar, mas por enquanto eu ainda mando nessa birosca!

O bom de mandar em alguma coisa é se tornar importante e ter ao seu lado outras pessoas importantes. Me dou bem com todos os managers. O Safety Officer (suéco) me deu uma caixa de cerveja (uma caixa mesmo, de 24!) porque eu sempre salvo a vida dele com os safety vídeos. O Environmental Officer (americano) é meu camarada, porque a namorada dele (escocesa) me adora. O Sous Chef (indiano) virou meu brother e me oferece boa comida todo dia, porque eu estou salvando a vida dele com vídeos também. O Chief Electrical Engineer (polonês) foi com a minha cara, porque eu resolvi um problema pra ele em menos tempo do que ele levou pra me explicar qual era o problema (e eu já estou explorando-o pedindo outro favor em troca). O Activities Manager é brasileiro e ex-broadcast, então não precisa nem explicar. O Production Manager (canadense) é uma bixona e me ama sem motivo. O Cruise Director (jamaicano) é meu chefe direto, outra bixona e também me ama (por culpa dele estou aqui de volta, porque ele me requisitou pessoalmente no office). O Dive Manager (sul-africano) me deve todos os tours em CocoCay, porque já salvei a vida dele (e de outros divers de outros navios) várias vezes com os vídeos que eles precisam. O International Ambassador (peruano) virou meu truta depois de jogar bola junto (modéstia à parte, eu joguei móóóito aquele dia e honrei a camisa do Brasil que eu vestia). A Dance Captain (italiana) me ama modestamente – ela depende de mim. O Assistant Hotel Director (filipino) me adora e eu não sei o motivo até hoje. Daí tem a geral: Head Sound & Light (chileno), Adventure Ocean Manager (mexicano), Musicial Director (ucraniano), Sports Supervisor (trinidaense), Photo Manager (indiano), SPA Manager (filipina) – tudo gente que eu me relaciono super bem. Acho que não falta mais ninguém. Gente da mais high-society do navio, de toda parte do mundo, que me gosta e me respeita reciprocamente.

Eu continuo sem motivos pra reclamar. Quando vejo a Broadcast Room funcionando tudo direitinho, tudo arrumadinho do meu jeito, eu quase morro de orgulho. Quando recebo elogios pelos vídeos novos (basicamente todos foram revitalizados!) meu ego quase explode. Quando olho pra fora da janela (tipo agora) e vejo esse marzão imenso, que não tem fim... me faz pensar que tem que ser muito retardado pra levar esse tipo de vida rodeado de água. Essa é uma coisa louca que inventaram pra que um bando de outros loucos pudesse se encontrar. Conviver com gente de 60 países diferentes (só ali em cima citei 15) não é uma coisa normal. Eu gosto disso aqui e tenho tentado curtir, porque sei que não é pra sempre (porque eu não quero que seja pra sempre).

Outro dia teve campeonato de futebol. Nosso time brazuca ficou em segundo, porque os latinos do outro time, sempre que jogam com o Brasil, quebram as pernas da gente. Aquilo passou longe de ser futebol, foi briga feia, vale-tudo. Eu dei bastante porrada também pra descontar, todo mundo deu. Quase saiu briga em todos os minutos de jogo. Mas no fim valeu a pena a brincadeira. Joguei muito, como já disse antes. Fiz gol com todas as pernas que eu tenho, de bico, de peito, de letra, de calcanhar. Só não saiu nenhum de cabeça porque era golzinho. Enfim, valeu a brincadeira, apesar da perna quebrada e doendo pelos 3 dias seguintes.

Hoje (ontem!) visitei o Liberty of the Seas, que seria meu primeiro navio, mas depois mudaram. Coisa linda! Enorme e moderno e assustador e bonito e bacana e talecoisa. Mas pra eu estar onde estou hoje é porque o destino acertou em me jogar aqui nesse navio pequeno e velho e assustador e feio e entediante e talecoisa.

Semana passada algo me fez muito feliz. Conheci 3 brasileiras (mãe e 2 filhas) muito gente finas. A gente se tornou bem amigos, saímos juntos e com certeza nos veremos de novo no Brasil. Isso fez meus 4 dias de cruzeiro bem felizes.

Tem mil coisas pra falar e ao mesmo tempo não tem nada. Tenho falado quase sempre a mesma coisa aqui (apesar de ter ficado quieto um bom tempo). No geral tenho que estar feliz, mas tem aquela coisa que falta. Me falta.

Falta.

Sabe quando você quer comer uma coisa sem saber qual é a coisa?
É essa coisa que eu sinto com essa falta que me sobra.

Tiau.
.