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25.8.10

.primeiras segundas impressões

Data: 22/08/10
Hora Local (CocoCay – Bahamas): 01h52
Hora do Brasil: 02h52

ATO I

Despedir é sempre aquela coisa ruim. Logo quando eu comecei a levar a vida que eu queria, eu tive que partir. Mas foi escolha minha, e fazer minhas escolhas também faz parte da vida que eu quero ter. Durante a semana foi uma sessão de despedidas, todos os dias vendo amigos de perto e de longe; pessoas iam aparecendo do além, pessoas que eu nem imaginava que veria. Isso tudo me pareceu um sinal de que era a última vez que eu estava vendo-os. Talvez eu morra. Talvez eles. Mas pela quantidade de gente, acho mais fácil que seja eu. Mas, bem, sobrevivi aos vôos. E tive meus melhores amigos ao meu lado até a hora da partida. Isso conforta, mas o adeus final dói bastante mesmo assim. Os vôos foram todos sob controle. Dormi 7, das 8 horas de viagem GRU-MIA. Acordei só pra comer, e só porque era de graça. (comecei com o papo de pobre antes de partir pro de rico logo mais). A imigração em Miami é sempre a mesma merda; aquela coisa de ir pra salinha onde todo mundo tem cara de terrorista e esperar horas até te liberarem, depois de algumas perguntas estúpidas.

ATO II

Incrível como já me sinto a vontade em Miami, que pelo tempo de permanência já posso chamar de segunda casa (nunca passei tanto tempo fora de Curitiba). O aeroporto era super familiar. O transporte até o hotel, que sempre é um tormento pra achar, eu resolvi fácil com uma ligação. O hotel era o mesmo. Eu já sabia o caminho, já conhecia a recepcionista e falei que lembrava dela, e pra minha surpresa ela disse “you look familiar”. Fiquei amigo do cara que carrega as malas, porque ele carregou a minha e dei 2 pila de gorjeta (já me sentindo rico) – daí depois eu ganhava carona no carrinho de golf pra sair do hotel. Lá no hotel eu também já sabia tudo o que fazer. E pra minha alegria cheguei de manhã, o que me deu um dia inteiro livre em Miami. Fui pra South Beach, o lado mais xique de Miami Beach (Zona Sul, parcêro!). Agora eu começo com o papo de rico mesmo (apesar de ter ido pra lá de ônibus). Lá a gente se sente rico. Ter um dia de turista em Miami te sobe pra cabeça. Lá só tem gente famosa, gente rica, gente metida, gente exibida. Isso faz você se sentir famoso e rico (metido e exibido eu não sei ser). Gastei como rico. Comprei várias coisas que eu nem precisava (tudo $1,99), entrei na AppleStore só pra passar raiva e, claro, tive que comprar alguma coisa porque a tentação é sempre grande. Fui também na BestBuy (outra tentação absurda), na Ross e várias outras lojas. Andei em South Beach quase de ponta a ponta. Fui até o final da Ocean Drive, que é a beira-mar. Andei na Collins e na Washington, que é a rua das baladas (e acho que vi a balada do seriado “Os Reis de South Beach”). Andei toda a Lincoln, talvez a rua mais famosa, que é tipo um calçadão da XV, mas muito mais xique, com restaurantes e as lojas mais caras do mundo: Victoria Secrets pra cima. Eu queria ter achado a NYFA que fica na Ocean, mas não achei. Tirei muitas fotos, mas duvido que eu vá te mostrar alguma. Ao fim, eu estava exausto. Tive um dia de celebridade em Miami Beach mas, que saber?!, não vale de nada fazer tudo isso sozinho. Já pisei em muito chão desse mundo, mas estar nesses lugares sem seus amigos, sem alguém pra compartilhar, não vale nada. Enquanto eu pensava isso durante a caminhada, eu ouvia Vanessa da Mata (“não me deixe só”), aquela batidona brasileira, aquela saudade de casa (já no dia que eu cheguei), saudade das pessoas que te fazem importante. Estive num dos lugares mais requisitados do mundo, no lugar das celebridades (a Copacabana mundial) e me sentindo celebridade. Uma celebridade solitária.

ATO III

Entrar no navio tem toda aquele burrocracia também. Mas depois de horas, você consegue. É gostoso retornar. É uma sensação deliciosa que dura muito pouco (só no primeiro dia e olhe lá). Só de sentir o cheiro do navio já me deu uma nostalgia enorme, lembrando da primeira vez que pisei num navio. Sim, tem um cheiro diferente, e a gente só percebe a diferença nos primeiros minutos, porque depois acostuma e fica cheirando isso pelos próximos 6 meses. E encontrar as pessoas é delicioso também. Todos vêm te cumprimentar e se mostram contentes por você estar de volta, mas também enche o saco responder 197 vezes “how was the vacation?”. Mas, no fundo, as pessoas ficam felizes de te ver porque sabem que já se passaram 2 meses desde a última vez que te viram, e nem perceberam como o tempo passou rápido e como falta pouco pra ir pra casa. Isso é chato de sentir, porque as pessoas estão animadas de estar partindo, e você só está chegando.
Encontrar os brasileiros antigos foi bom. Encontrar o chefe foi bom. Encontrar os amigos do cast foi ótimo e já sinto uma saudade enorme deles, que vão embora em uma semana. No meio da tarde alguém bate à minha porta. Eu não tive dúvidas de quem seria: “just came to say hi”, com aquela carinha que me fez perder a reação em outros tempos. As coisas que acontecem em navio são engraçadas, e diferente de qualquer coisa da terra firme. Se você não é marinheiro, me desculpe, mas você nunca vai entender. As pessoas já me atualizaram dos babados e barracos das últimas semanas. Nada muito diferente do que eu já sabia. A grande notícia é que, bem provavelmente, eu seja promovido a Head Broadcast quando meu chefe for embora. Não tem ninguém pra vir no lugar dele e, depois dele, eu sou o que mais conhece esse ship, então por isso da promoção. Mas é temporária, só até ele voltar de férias, depois de 2 meses. Mas vai ser bom pra mim, um desafio novo, coisas novas pra fazer nesse navio e não morrer entediado, e vai acariciar meu ego com carinho também. Espero que dê certo. Se não der, é porque eu fui abrir a boca antes da coisa dar certo, mas eu não me agüento. No geral, não mudou muita coisa desde a última vez que pisei aqui.

Agora vou-me, porque tenho o sono atrasado desde o Brasil, e não tenho esperança de colocá-lo em dia esta semana. Primeira semana é foda, tem muito training e meeting e o caralho a 4.

Escrevi demais. Mas problema da parede – ninguém mandou ela ter ouvidos.
.

6.8.10

.divida a dívida

Data: 06/08/10
Hora Local (Curitiba - Brasil): 03h29
Hora do Brasil: 03h29

Eu queria dizer que estou devendo notícias, mas daí eu me lembro que, honestamente, eu não devo nada pra ninguém (exceto pra faculdade - devo, não pago e nego enquanto puder).

O que me lembro é que no dia 21 de junho, no aeroporto de Miami, eu escrevi um dos posts mais sinceros e honestos deste blog. Por algum motivo sobrenatural, eu apertei "não salvar" na hora de fechar o editor de texto. Sabem o que aconteceu? É, não salvou. Lógico, é isso que acontece. Talvez por isso eu tenha ficado com raiva de chegar perto do blog e reescrever o post. Isso passou pela minha cabeça, mas tão rápido a ponto de eu desistir depressa. É impossível ser honesto duas vezes seguidas - concluí.

Minha saída do navio foi conturbada, a ponto de eu estar fora do navio, de cara com um oficial da polícia federal americana - aquele que carimba teu passaporte pra ir embora - sem saber se eu realmente estava indo embora, porque eu ainda não tinha a confirmação do vôo. Queriam me segurar por mais 2 semanas por falta de contingente (esse termo é forçado demais). De tanto eu reclamar, já diziam: - ninguém mais te segura nesse navio, né? Ninguém mesmo. Eu estava disposto a sair a todo custo. Pois bem, saí.

Agora eu dou um salto gigante pra não falar da nostalgia que vivi no aeroporto ao lado da Paulinha, que também tava vindo embora (chegamos e saímos juntos do navio), e dos primeiros dias de férias.

Aliás, "férias"? Ok, volto pro navio daqui 2 semanas. Cheguei em casa no dia do aniversário do meu irmão, e vou embora no dia do aniversário da minha irmã. Mas isso é só um parênteses. (cadê os parênteses?) - "não tive férias", é o que eu quero dizer. Assim que cheguei, mandei um recado pro meu diretor publicitário: "cheguei e estou à disposição" - doce estupidez, porque na mesma semana ele me liga oferecendo trabalho. Claro que aceitei, não sei recusar essas coisas. Trabalhei que nem um condenado (adoro falar 'que nem', mas escrever fica feio) o mês inteiro. Mas fiz o que (mais) gosto e obtive certo reconhecimento com isso. Mas trabalhei muito mais do que trabalho no navio e ganhei metade do que ganho lá. haha Daí as pessoas perguntam porque é que a gente volta pro navio...

Pois bem, das 8 semanas de férias, terei 2 pra descansar. Deve ser suficiente, apesar de não servir pra fazer NADA do que eu planejei, minuciosamente, pras minhas férias. Nada de viagem pra Buenos Aires e andar no carro da Melina; nada de viagem pra Montevideo pra ver os amigos do Manati Salsa; nada de gravar o curta-metragem do roteiro que escrevi a bordo; nada de Festival CUCO; nada de nada. No lugar disso, só o trabalho que me esgotou; a ex-namorada que veio visitar sem avisar; novos e velhos amores que não deram certo; casa nova; carro (velho) novo; futebol nas terças; e o frio filhodaputa que fez em Curitiba (chegou a -3°C, pra quem acha que é exagero).

Se eu tô preparado pra voltar pro mesmo navio, mesmas pessoas, mesma rota, mesmo trabalho e os 35°C de Nassau? Claro que não. Mas vamo que vamo. Já estou inventando coisas pra fazer a bordo. Nenhuma delas vai dar certo, mas pelo menos eu faço de conta que sim e me sinto menos deprimido desde já.

Um beijo pra quem fica.
Não sei se vou ter empolgação pra terceira temporada desse blog, porque além da falta de novidades, eu já sinto que falo com as paredes quando escrevo aqui.

"da dúvida divina, dádiva de deus" (M19)

tiau.