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21.3.10

.quando o inverno chegar

Data: 21/03/10
Hora Local (Nassau - Bahamas): 20h39
Hora do Brasil: 21h39

Daqui 3 meses o inverno chega ao sul do mundo pra me recepcionar em casa.
Depois de ter tido um ano inteiro de primavera/verão em 2009, terei um 2010 de outono/inverno. Essa vida de ficar viajando de norte a sul te faz dessas.

Eu queria contar algumas coisas, mas já esqueci o que era. Hoje tivemos um dia de sol em Nassau, finalmente vi calor de verdade. Mas não fui à praia, ainda. Irei nos próximos dias, porque passar 6 meses morando nas mais belas praias do mundo e não desfrutar delas, é coisa de gente burra.

Hoje Senna faria 50 anos. Já faz 16 que ele morreu, nem parece. Me lembro de tudo como se fosse semana passada. “Importante é vencer. Tudo e sempre”. Levo isso em mente pra onde eu vou.

E a vida aqui segue normal. Vivendo bons momentos ao lado de pessoas loucas. Um dia bebendo vodka, outro vinho, ontem foi um luxo bebendo champagne com a Bianca, mas a cerveja no back deck sempre rola, só pra dar aquela rebatida no dia que se acabou. De vez em quando as boas companhias aparecem pra não me deixar dormir cedo (como se eu fizesse questão).

É isso.

Tiau.

.de luto sem fugir da luta

Data: 19/03/10
Hora Local (Miami - USA): 16h31
Hora do Brasil: 17h31

Se me faltava um motivo pra chorar, agora não falta mais. Keu me escreveu hoje, com poucas palavras, acabei de ler o e-mail: a Tia Beth faleceu ontem. Tia Beth, mãe do Roger, meu irmão de coração. Logo, era minha mãe também. Passei bons momentos ao lado dessa família: aniversários, natais, viradas de ano ou simplesmente aquele churrasco no fim de semana sem motivo especial. Mas agora a Tia Beth se foi e sequer estou por perto pra dar um abraço nos meus amigos-irmãos, e não estive por perto pra estar ao lado dela enquanto ela esteve doente.

Esse sentimento de impotência é o que mata por aqui. Isso acontece a qualquer momento, qualquer dia, não existe como saber. Te faz pensar que pode acontecer com a nossa própria mãe, com nossos irmãos, a qualquer momento, e tu não pode fazer nada estando aqui, longe de casa. Isso é triste e dói.

Que ela esteja bem agora, num lugar confortável em qualquer lugar do espaço. E que meu irmão Roger, assim como a Ale e Pati, tenham forças pra suportar a perda e levem a vida adiante, ao lado do Seu Jorge, que provavelmente será o que mais vai se sentir só.

Aqui ficam meus sentimentos e minha saudade da Tia Beth, que me chamava de filho.

Adeus.

.festa no gueto

Data: 18/03/10
Hora Local (Key West - USA): 23h14
Hora do Brasil: 00h14

Desde que eu cheguei que eu queria fazer festa na minha cabine, mas nunca rolou. A gente fez essa semana, meio que sem querer. Foi bacana, brazucada reunida. Ouvimos música, vimos música, tocamos música, cantamos músicas e bebemos, claro. Fui dormir 6h da manhã nesse dia. E como disse o Johnweyne: - “é isso que faz valer a pena”.

Sei que alguém reclamou pro meu supervisor, mas alguém tão bundão que não teve coragem de vir reclamar pra mim, foi falar pro Jason. Mas nem dá nada, ele é gente boa e só me contou isso, não falou pra brigar. Como ele sempre diz: - “I don’t care”.

Não sei se já falei isso, mas já passei da metade do contrato. Dos 204 dias que devo ficar à bordo, já cumpri mais de 100. Mas nem tô preocupado com isso, “deixa a vida me levar, vida leva eu”.

E eu fico com medo da maneira que as pessoas me conhecem. Quando gringo fala umas verdades que eu ouvia no Brasil, eu começo a ficar com medo, porque quer dizer que é verdade mesmo. Tipo, a australiana me disse hoje que eu sou dramático. Todo mundo me fala isso no Brasil, mas ouvir de gente de fora é foda. Acho que eu sou dramático mesmo então. Hahaha mas foi engraçado, porque ela é louca também, age diferente do que fala. Mas eu tô tendo good times, a gente ri bastante com essas histórias, incluindo essa de eu ser dramático.

A melhor coisa do dia foi receber e-mail do Victor. Lembram dele, do Peru, meu mlehor amigo do contrato passado?! Então, me escreveu o primeiro e-mail desde que embarcou no Emerald Princess em novembro. Disse que está com Hilda (Peru) e Tamas (Hungria) no navio, que o salário tá melhor que no Grand. Fiquei feliz de saber, feliz de receber notícias. Quase chorei, coisa que eu não faço desde o Brasil (exceto o dia que eu acordei chorando aqui, mas foi coisa de sonho, não porque eu tava triste). Mas depois disso, quase chorei também com alguém contando que foi em busca dos sonhos em outro país, que teve dias difíceis, mas que só chorou quando decolou ao sair do Brasil. Comigo aconteceu isso também, da vez que fui pra SP e da primeira vez que fui pra um navio. A ficha só cai mesmo quando o avião decola. Pensar que aquela é a última vez que tu tá vendo sua terrinha pelos próximos 6 meses é algo que dói. Enfim, só fiquei no quase hoje.

E, putz, hoje voltei a investigar os cursos de cinema da escola de NY. Tem em vários países, mas eu queria mesmo ir pra Hollywood ou Harvard, só que NY é tentador também, sem falar em Miami. Já passei na frente da escola de Miami sem saber, fica em South Beach. Se eu conseguisse desembarcar do navio e já ficar em Miami, seria jogo demais fazer o curso. Mas não é uma coisa pra agora, só que fico agoniado querendo fazer logo.

- I hate you.
- You love me.

Vô lá. Tiau.

.sea sick, blééé

Data: 13/03/10
Hora Local (Nassau - Bahamas): 20h16
Hora do Brasil: 22h16


Já tem 3 dias que acordo com dor de garganta, sintomas de gripe e sem vontade de comer. Aliás, estamos em alerta porque há um vírus no ar e os cuidados de higiene estão redobrados. Deve ser isso, o bichinho do rum-rum me pegou primeiro.

Acabamos de chegar em Nassau pra mais uma overnight, mas acho que não vou pro Bambu, não. Doente, cansado e sem vontade de ver agumas pessoas.

E as coisas continuam mudando rápido por aqui. Hoje tá tudo lindo, amanhã tá tudo feio, no outro dia já tá diferente de novo. São complicadas essas coisas, pior do que novela mexicana.

Chegou uma brasileira nova, mas mais da metade dos brasileiros tá indo embora em menos de 2 meses. E eu tô na metade do caminho. 3 meses e meio a bordo, 3 meses e meio pra ir embora. Agora a contagem é regressiva, pelo menos. Mas não tô importando muito com isso, não tô com tanta pressa de ir embora. Embora algumas coisas me dêem motivo pra querer ir, mas nada tão grave assim pra me fazer pensar no assunto a sério.

Assisti “Before Sunset” (2004) de novo e continuo gostando do filme. E gosto de rever filmes com pessoas que ainda não viram. Gosto de ver a reação das pessoas em determinados momentos. E me orgulho de não ser daqueles que ficam contando o filme ou falando qualquer coisa no meio. Me seguro e fico em silêncio. E nesse filme em questão é essencial isso, porque aqueles 10 segundos de fade out no final dão todo o toque especial. Se eu falar “acabou” com 3 segundos de black não tem a mesma graça de fazer as pessoas se darem conta por elas mesmas de que o filme acabou, só depois de aparecer o nome do diretor depois de um longo vácuo pra refletir. E as reações são sempre ótimas e as mesmas pra esse filme em questão: - “What? He didn’t get her?”. Eu disse o mesmo, em português, claro, quando vi o filme pela primeira vez. A frase final do filme é uma das minhas prediletas:

- Babe, you are gonna miss that plane.
- I know.

Eu tinha um diálogo pra escrever (não de filme), mas esqueci qual era. Mas uma frase da semana que marcou (não muito positivamente) foi essa: - I know. Everybody knows!

Tiau.

6.3.10

.friend benefits

Data: 06/03/10
Hora Local (At Sea): 02h47
Hora do Brasil: 04h47

Tive uma das conversas mais engraçadas da minha vida. Um misto de amor e ódio, de rir pra não chorar, e de bastante sinceridade, verdade, honestidade. E as verdades é que são engraçadas. No fim, tudo se resolve.

Eu peguei mania de decorar diálogos de filme. Também pudera, assisto o mesmo no mínimo 8 vezes desses que passam na TV. E algumas falas fazem sentido agora.

- He said that he loves her. Please, tell me that you don’t love me.
- I hate you.
- Oh my God, I looove you!
- Why did you say that you love me?
- I didn’t say that I love you, I said I looove you.
- Ahã.
- If I say with american accent is different when I use the UK accent.
- Ahã. My english is so perfect that I can understand when an australian say something with american or UK accent.
- HAHAHAHAHA


Adoro!

.enquanto isso

Data: 05/03/10
Hora Local (Key West - USA): 01h29
Hora do Brasil: 03h29

Mesmo distante de casa, um dos vídeos que editei para o GG, como introdução ao seu recital de poesias, foi premiado com Menção Honrosa no Festival do Minuto e essa semana recebemos um e-mail dizendo que concorre como Melhor Video-Minuto de 2009. Vai ter premiação e tudo, num evento no MASP dia 10. Fico feliz com a indicação e triste por não poder comparecer. E também feliz de ver que mesmo de longe eu ainda tenho conseguido me fazer presente no meio ao que eu faço parte. Getúlio vai me representar no evento (e na verdade o vídeo é mais dele do que meu, porque eu só editei e inscrevi nos festivais). Mas é legal ver um trabalho despretencioso colhendo frutos assim.

Pausa para um déjà vu.

Pessoal da PULP também me escreveu querendo fazer mais alguns trabalhos juntos. Fica um pouco difícil agora com a distância, mas vamos tentar.

E por aqui vai tudo na mesma. Ultimamente só tenho escrito delírios e devaneios aqui, mas não tem muito o que falar do trabalho. Já domino todas minhas ferramentas por aqui, recebo mais elogios do que críticas (bem diferente do outro contrato onde elogio não existia e críticas eram dezenas diariamente). Enfim, tá indo tudo bem. O trabalho tá tranquilo e eu tenho tempo livre suficiente, posso acordar tarde quando quero (e eu tenho querido todo dia). Não tenho saído muito do navio e quando saio é pra usar a internet em alguma Starbuck’s ou Hard Rock Café. E ultimamente o back deck (vulgo crew bar) tem ficado mais animado. Acho que o novo cast (singers and dancers) realmente trouxe mais movimento pras coisas por aqui. Pelo menos pra mim, significou bastante movimento. Sinto falta do cast antigo, mas também gosto muito do atual. São as pessoas com quem eu mais me relaciono socialmente, com exceção dos brasileiros, claro.

E as coisas continuam acontecendo rápido. A gente sempre paga o preço da crueldade pelas nossas decisões (tomadas e não tomadas).

Tiau.

.ôh, marinheiro, marinheiro

Data: 02/03/10
Hora Local (Miami - USA): 01h07
Hora do Brasil: 03h07




Meus amigos são retardados mesmo. E eu não vivo sem eles.
Já passou faz tempo, mas me mandaram um video no Ano Novo e no Carnaval, festando, mas lembrando de mim, cantando a música do marinheiro d’Os Paralamas. Fico feliz com a lembrança sempre, mas já disse que fiquei mal acostumado. Se não chegar nada na Páscoa eu já vou reclamar.

Falando em marinheiro, devo dizer que dia 27 passado completei 1 ano de mar, 1 ano que embarquei pro meu primeiro contrato. E posso dizer que foi o ano mais rápido, mais intenso, mais diferente e, talvez, mais importante da minha vida até agora. Não tô muito afim de fazer um balanço de tudo agora, mas sei que no saldo geral sai positivo. Tudo tem seus prós e contras, e os contras daqui são bastante cruéis, mas a gente sempre tenta pensar nos benefícios pra suportar as dores.

Falando em dores, devo dizer que eu já sabia que os sentimentos no mar são centenas de vezes mais intensos do que na terra. Quem você conheceu hoje pode já ser seu melhor amigo amanhã. Ou também seu melhor amigo pode estar indo embora amanhã e você nunca mais vai vê-lo na vida. Isso eu já sabia, isso eu já tinha sentido. Mas sempre existem sentimentos novos pra conhecer, pra aprender, pra esquecer, pra doer. Sentir saudade de quem ainda não partiu também é uma coisa que dói. Começar um relacionamento de amizade, de amor, profissional, com data marcada pra acabar é algo cruél, mas é assim que acontece aqui, não existe escapatória. Enfim, vou parar de delirar a respeito. Eu só queria dizer que a pessoa que sai daqui é diferente da que entra. Isso acontece com todo mundo, e se você pensa que tu está mudando, tem que pensar que todos à sua volta também estão, todos vivem um transtorno interno e isso te faz pensar mais no próximo também, a tentar entender o outro com todas suas mudanças, por mais que você não aceite. E tentar aceitar o outro com todas suas mudanças, por mais que você não entenda. Ninguém volta pra casa com o mesmo peso na bagagem (porque a gente sempre compra tudo que vê pela frente, haha, mas não é nesse sentido que falo), tudo é aprendizado pra vida, profissional e pra sempre. Mas tudo acontece da forma mais cruél.

Por falar em cruél, a crueldade maior é ficar sem entender por que tudo isso acontece na nossa vida, é ficar sem entender e sem saber como será o amanhã, porque tudo que você passa aqui você nunca espera, cada dia é uma coisa nova, e esse ritmo te faz pensar que amanhã será diferente de novo, mas diferente como? A gente nunca sabe, e isso é cruél. Eu sei que isso é pra qualquer lugar do mundo, mas aqui é mais intenso e imprevisível. Se vai ser bom ou ruim a gente nunca sabe. E mesmo que seja bom, uma hora vai ficar ruim, porque você sabe que vai acabar.

Por falar em nunca saber, eu disse no post passado que queria algo bom acontecendo, alguma surpresa, alguma coisa pra movimentar as coisas por aqui. E isso realmente acontece e me deixa feliz, mas ao tempo tempo deixa triste do ponto da crueldade. É pior do que ter o pirulito roubado, porque aqui a gente já sabe que vai ser roubado uma hora, só resta esperar. O saldo ainda é positivo, porque em algum momento você teve aquilo nas mãos e aproveitou enquanto foi possível, mas antes mesmo de você fazer planos com a coisa você já não mais a tem. Coisas vêm e coisas vão numa velocidade absurda. O ontem aconteceu hoje. O amanhã já está acontecendo. O presente já começa acabando.

Por falar em tempo, é hora de ir, porque eu duvido que você entendeu meia linha do que eu escrevi, até porque nem eu ainda faço idéia do que elas dizem. Mas tudo aqui dói.

Adeus.